O brilho da palavra bruta
Estamira revelou-se como uma centelha para iluminar a nossa noite mais escura. De imediato, sopramos ao Universo um pedido de licença metafísica para utilizar o seu nome. O assumimos como quem pisa em chão sagrado, mas sem a intenção de suavizar as suas dores ou de colorir as suas cicatrizes. Muito menos pretende-se monetizar a condição vulnerável que ela enfrentou oscilando entre o delírio e a lucidez. Dessa forma, a editora surge para decifrar a força inaudita da criação. Em especial as vozes à margem, as narrativas à espera do visível, o que floresce em terreno de improvável fertilidade.
Respeitamos o tempo próprio que toda arte exige, o trabalho paciente de polimento que preserva a palavra em sua essência. Acreditamos na transparência das parcerias e no cuidado com todo exemplar como se fosse único. Neste espaço são especialmente bem-vindos: o texto curto e insurgente; a ficção sob o viés do inconformismo. O livro que é corpo, memória e luta.
Para nós, o trocadilo, o esperto ao contrário que ela tanto denuncia no ainda impactante documentário de Marcos Prado, é o projeto gráfico sem alma, a falta de autenticidade, a vaidade autoral que, sem ter nada a dizer, almeja apenas o estrelato.
E, por acreditar também que a incivilização é feia, evocamos essa entidade com ojeriza à mentira para que ela nos revele a missão da nossa jornada. Para que ela derrube pelo caminho todo inimigo que joga a pedra e esconde a mão.